quinta-feira, 17 de setembro de 2015

4. Eu (Só)fia

pintura de Cris S. Koester

Sofia ama Carlos, mas Carlos ama a si mesmo. Ela ama seus olhos, sua boca, suas tímidas covinhas e seus músculos, ele assentia e falava que realmente era tudo muito perfeito. Sofia sofria por amar uma estátua ambulante, um poço egocêntrico de músculos. Ela parou de amar e voltou ao MySpace para reclamar sua carência.

Sofia ama José, mas José ama o mistério. Ela ama seu jeito calado, seu tempo presente e seu sotaque sulista, ele agradecia pelos elogios e permanecia em silêncio sobre seu passado. Sofia só ria de sua ingenuidade de estar com um sujeito que era José, mas poderia ser um João ou um Joaquim. Ela parou de amar e voltou ao Orkut para reclamar sua carência.

Sofia ama Gabriel, mas Gabriel ama a Antropologia. Ela ama seu cabelo ajeitado, suas roupas estilosas e seu perfume doce, ele ficava vermelho e sorria, logo falava de seus estudos. Sofia só lia e não entendia nada, viu que nesse livro ela não se encaixava nem com rimas. Ela parou de amar e voltou ao Facebook para reclamar sua carência.

Sofia ama Fábio, mas Fábio ama sua superioridade. Ela apenas ama tê-lo como seu parceiro, ele grita com ela, manda ela pra cozinha pra fazer comida e pegar mais cervejas. Logo ela entendeu. O término foi sua enfim dolorosa liberdade. Agora Sofia ama (Só)fia e ela clama nas redes sociais que ela não precisa de homem nenhum para ser feliz.

Um comentário:

  1. Sofia percebeu que a solidão pode ser um ato de amor próprio tbm!

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