sexta-feira, 20 de maio de 2016

16- Amor tem um só caminho



Ela acordou as 5h30 pensando que já eram 8 horas.
Preparou o café sem perceber ainda era noite lá fora.
Pegou seu celular e viu as fotos do homem que ela namora
e que, porém, não era algo mútuo.
Era o Harry Styles.

De tanto suspirar, ela criou uma nova corrente de ar.
que criou uma pressão mais forte do que a do fundo do mar.
Sem oxigênio no cérebro, seu mundo começou a se atordoar.
Ela teve uma parada respiratória e pensou que isso era amar.
Harry Styles sem saber de nada
continuou sem se importar.

Não respirando e ainda vestindo a camisola de estampa de galinha
recebeu a visita de sua adorável vizinha.
"Ai meu Deus? Você está bem? Quer que eu ligue para alguém, queridinha?"
Pensou no pai, na mãe, até na sobrinha,
mas era o Harry Styles que ela queria.
Em consequência de seu número não achar,
morreu ao som de "Hey Angel" a tocar.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

15- O silêncio é o barulho mais agoniante.



Num pequeno apartamento de uma selva de pedra mora o pequeno Paulo Matheus. Pequeno que só ele, a criança era um poço de beleza inocente, seus lindo cachinhos ruivos refletiam os raios “ultraviolentos” da sociedade dando a ele uma feição eterna de tranquilidade infantil, seu sorriso com falta de dentes era uma janela de contagio em massa de felicidade. Um menino tímido cujo único barulho emitido era a gargalhada.

Mas de onde ele tirava esse barulho?

Paulo vinha de uma família estressada. Pais com um relacionamento turbulento de agressões que gerou numa separação física e no coração. No apartamento morava Letícia, a mãe traumatizada com o passado emocional, entulhada com um trabalho sem fim e contagiada com o recorrente estresse em massa, com traços em seu rosto que denunciava seu cansaço de uma vida de guerreira de uma mãe solteira. Morava também Adão, o ser com cara de joelho sedento por carinho e por leite materno, machucado com um sopro no coração que o fazia chorar de agonia de hora em hora. O barulho recorrente dessa casa eram gritos, berros e choros e as sofridas e tímidas gargalhadas de Paulo Matheus que ninguém sabia de onde surgia.

Numa noite de segunda, o furacão de estresse chegou em casa. A babá pedindo demissão por não aguentar tantos choros, esse sentimento de inutilidade que sentia a atormentava. A mãe chegou aos prantos implorando para ela tentar mais um pouco e recebeu apenas um adeus. Com um sutil movimento carente, Paulo se aproximou em busca de afago, mas a feição vermelha de ódio resultou apenas em gritos e reclamações. Letícia tinha sido demitida e seu ex-marido tinha atrasado a pensão. Depois de tensas horas de choros, a madrugada chegou com o silêncio agoniante de incerteza, era uma intensa dor sonora. Paulo se ajoelhou próximo a janela, fechou os olhos e cantarolou um belo mantra. A selva de pedra não tinha misericórdia, os lobos uivavam “Cala a boca!”, “Esse moleque não tem mãe não? Vai dormir!”


No dia inédito de se escutar um novo barulho de Paulo, nem a ira dos lobos foram capazes de calar a tentativa de afogar sua silenciosa e desesperada tristeza.