sábado, 17 de setembro de 2016

17 - Negação à apostasia do amor



Escrevi cartas pra você e as enviei pelo vento
Eram folhas com palavras diferentes
Eu não sabia o que escrever, nem sabia o que era esse sentimento
Eram páginas abstratas de um passado aparente

Faziam 3 meses, 3 anos, 3 minutos de sua partida
Toda uma história de chegadas e despedidas
Eram jornadas em que você ficava, permanecia
e vários contos em que, aqui, você não pertencia

Todas as vezes que eu te via no carro, dormindo, nas longas viagens
e todas as outras em que cochilava em longas-metragens
Cada sorriso que escapulia
Cada beijo que te roubava, era essa surpresa que você preferia

Ainda dá tempo, não entra no avião
Por favor, lhe peço. Não diga adeus
Fica comigo. Diga que vai não
Será que é tarde para roubar outros eternos beijos seus?

Chegaram cartas para você
Com lágrimas de "eu te amo".

sexta-feira, 20 de maio de 2016

16- Amor tem um só caminho



Ela acordou as 5h30 pensando que já eram 8 horas.
Preparou o café sem perceber ainda era noite lá fora.
Pegou seu celular e viu as fotos do homem que ela namora
e que, porém, não era algo mútuo.
Era o Harry Styles.

De tanto suspirar, ela criou uma nova corrente de ar.
que criou uma pressão mais forte do que a do fundo do mar.
Sem oxigênio no cérebro, seu mundo começou a se atordoar.
Ela teve uma parada respiratória e pensou que isso era amar.
Harry Styles sem saber de nada
continuou sem se importar.

Não respirando e ainda vestindo a camisola de estampa de galinha
recebeu a visita de sua adorável vizinha.
"Ai meu Deus? Você está bem? Quer que eu ligue para alguém, queridinha?"
Pensou no pai, na mãe, até na sobrinha,
mas era o Harry Styles que ela queria.
Em consequência de seu número não achar,
morreu ao som de "Hey Angel" a tocar.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

15- O silêncio é o barulho mais agoniante.



Num pequeno apartamento de uma selva de pedra mora o pequeno Paulo Matheus. Pequeno que só ele, a criança era um poço de beleza inocente, seus lindo cachinhos ruivos refletiam os raios “ultraviolentos” da sociedade dando a ele uma feição eterna de tranquilidade infantil, seu sorriso com falta de dentes era uma janela de contagio em massa de felicidade. Um menino tímido cujo único barulho emitido era a gargalhada.

Mas de onde ele tirava esse barulho?

Paulo vinha de uma família estressada. Pais com um relacionamento turbulento de agressões que gerou numa separação física e no coração. No apartamento morava Letícia, a mãe traumatizada com o passado emocional, entulhada com um trabalho sem fim e contagiada com o recorrente estresse em massa, com traços em seu rosto que denunciava seu cansaço de uma vida de guerreira de uma mãe solteira. Morava também Adão, o ser com cara de joelho sedento por carinho e por leite materno, machucado com um sopro no coração que o fazia chorar de agonia de hora em hora. O barulho recorrente dessa casa eram gritos, berros e choros e as sofridas e tímidas gargalhadas de Paulo Matheus que ninguém sabia de onde surgia.

Numa noite de segunda, o furacão de estresse chegou em casa. A babá pedindo demissão por não aguentar tantos choros, esse sentimento de inutilidade que sentia a atormentava. A mãe chegou aos prantos implorando para ela tentar mais um pouco e recebeu apenas um adeus. Com um sutil movimento carente, Paulo se aproximou em busca de afago, mas a feição vermelha de ódio resultou apenas em gritos e reclamações. Letícia tinha sido demitida e seu ex-marido tinha atrasado a pensão. Depois de tensas horas de choros, a madrugada chegou com o silêncio agoniante de incerteza, era uma intensa dor sonora. Paulo se ajoelhou próximo a janela, fechou os olhos e cantarolou um belo mantra. A selva de pedra não tinha misericórdia, os lobos uivavam “Cala a boca!”, “Esse moleque não tem mãe não? Vai dormir!”


No dia inédito de se escutar um novo barulho de Paulo, nem a ira dos lobos foram capazes de calar a tentativa de afogar sua silenciosa e desesperada tristeza.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

14- Três etapas para auto-aceitação


                                                             Fotografia de André Brito



Se um dia eu tiver a oportunidade de viver outra vez, eu escolheria não. Não porque eu odeio viver, mas qual seria o ponto de viver tudo de novo achando que poderá mudar algo, mas acabar fazendo a mesma coisa? 

Minha vida durou 12 meses. Uma eternidade tentando achar uma maneira de expandir meu tempo de vida e impedir o (in)evitável. Foram 8 dias para pensar em como não entrar na minha crise de identidade, meu momento introspectivo de auto-conhecimento. Viajei à vários ambientes, conheci espécies diferentes, fugi e fugi. Mas foi tudo em vão.

Entrei debaixo de minha coberta e me enrolei até me sufocar com meu ego. Chorei, ri, fiquei com raiva e com medo. Hibernei. A minha vida obscura me deixou com medo. Quem era eu? O que era eu? Pra que eu existia? Foram 3 longos dias na penumbra. 

Logo, decidi me abstrair da minha vida, pensar nos outros, pensar em cada alimento que me sustentou, em cada grão de terra que pisei, em cada brisa me refrescou e em cada perigo que fui salvo. Pensei na vida nos outros e tentei imaginar no que não existia. Comecei a me sentir confortável nessa escuridão quentinha e aconchegante. Mas, após 4 dias, o inevitável.

Eu vi a luz, vi que mudei. Meu corpo estava diferente e eu estava curioso. Comecei a me explorar e ver o que meu corpo era capaz. Logo, veio o medo, a ansiedade de saber que eu estava perto de um fim. Voei para longe, para o mais distante que consegui. Apenas viajei. Conheci outros e outras como eu e explorei, curioso com um corpo ao mesmo tempo igual e diferente ao meu.

Vivi por vários meses e aceitei minha vida, me aceitei. Comecei a me achar a criatura mais bonita do mundo. Minha beleza gerada pela minha segurança fez com que os outros me chamassem de Bela Dama. Essa sou eu, Vanessa, a Bela Dama.