terça-feira, 8 de setembro de 2015

1. Um sofá para chamar de lar



  Um tijolo após o outro, um pingo de suor atrás do outro, embaixo de um Sol escaldante de verão, sujo de argamassa em suas mãos. Rubens trabalha todos os dias erguendo lares, um trabalho pesado que faz com que um rapaz de vinte e dois anos tenha cara de trinta e alma de sessenta, mas não é algo que ele reclame. O trabalho é uma das coisas que Rubens mais se foca e se alegra por tê-lo.

  Dois filhos para cuidar, Rubens foi pai aos dezesseis. Ele os ama muito, porém não tem tanto tempo para dar a atenção devida. Foi refém das ruas e levou o amor de sua vida, Silvia, para as aventuras do crack. E assim como um forte soprar do lobo, a morte dela demoliu as estruturas de sua vida. Hoje ele vive para trabalhar com um salário que não é o bastante para sustentar. A família é uma das coisas que Rubens mais zela e se alegra por tê-la.

  Três vezes já foi parar no hospital por se esforçar demais no trabalho, porém, teimoso do jeito que é, nunca diminui seu ritmo. Foi vítima da pobreza e não achou outro caminho a não ser a do crime, roubou vários e matou alguns outros e Rubens não se arrepende, apenas gostaria que tivesse outro jeito de sobreviver.  Hoje ele se alegra com o sorriso que os "doutores" o oferecem ao realizar seus desejos de ter casa própria que ele construiu com suas próprias mãos, mesmo que tenham medo de sua aparência suja de trabalhador. A redenção é uma das coisas que Rubens mais clama e se alegra por tê-la.
  
  Quatro anos com a mesma rotina. Sai do trabalho, pega seus filhos na escola pública, vestem suas roupas apresentáveis e limpas para poder entrar na loja de móveis e senta em um confortável sofá com seus filhos soltos a perambular pelo recinto. Logo nota o olhar de pena dos funcionários e sente a inércia deles. Ao derreter do sofá com o peso de seu corpo, escora sua cabeça no canto e fecha os olhos, assim suspira com o efêmero sentimento de descanso e o lindo e único momento em que se sente "em um lar". Ele volta com seus filhos para o papelão da esquina e se alegra por pelo menos estar vivo.

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