segunda-feira, 5 de outubro de 2015

7. Penúria




Pintura de Kelly Hill

Na janela do meu quarto, cantava o sabiá. Eu queria tentar acompanhar, mas eu não sabia assobiar. O canto era lindo, a melodia contagiante e com o tempo, seu cantarolar se tornou mais precioso que o diamante. Mas ele morava escondido, dentro da mangueira, eu o ofereceria um sorriso se eu o encontrasse de bobeira. Como era lindo aquele sabiá que só morava no meu imagético?

Sei que o meu amor um tanto cresceu, queria provar meu amor, um eros que nem de Orfeu. Queria tocar uma serenata, mas meu dedos são lentos. Talvez pintar um quadro, mas, de criatividade, não sou sedento. O que fazer, se nem rima eu sei? Será que eu como eros, Thanatus encontrei?

Em busca de alimento, eu o vi.. ele voou. Como um cair de maçã, uma ideia me despertou. A árvore é inútil e o sabiá não precisa dela inteira, vou quebrar alguns galhos, destruir essa mangueira. Oh! Esse ninho é pequeno, não é digna de um cantor, vou construir uma casa a ele com bastante esplendor. Quando ele voltar, irá me agradecer, mais lindo será seu canto, mais radiante irei de viver.

Ao voltar, o sabiá chorou, triste ele voou e nunca mais voltou. Por três dias eu me trancafiei, tentando entender no que de errado tinha o presente que dei. Gritei:

"Por que, sabiá? Por que me abandonou? Todo amor que dei foi nada? Recebo só esse angustioso terror?"

Assim, ele surgiu e respondeu:

"Não foi amor que me deu, isso é longe de amar. Destruiu o meu refúgio, construiu uma bela cadeia só para me comprar. Meu ninho era tudo o que eu tinha e você destruiu, como te amar quando o egoísmo foi tudo que seguiu? O amor é só o de belo, não a feiura, tudo isso foi prisão. Pura penúria."

Nenhum comentário:

Postar um comentário